sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Carta ao Papai Noel


Por ROBERTO VIEIRA


Querido Papai Noel,
Como vai?
Eu vou mais ou menos.
Na escola e aqui em casa disseram que o senhor não existe. Nem o senhor nem o menino na manjedoura. O que me deixa praticamente sem opções. Desculpe o termo, mas me deixa num mato sem cachorro.
Não acho que deveria gastar um pedido com jogo de futebol. Existem coisas mais importantes no mundo. A asma da Isabel, o câncer da vovó e o Duque que foi atropelado e agora anda em três pernas. Todos sofrem muito.
Eu? Eu vou mais ou menos, Papai Noel.
Mas, voltando ao assunto, venho por meio desta, solicitar, caso o senhor exista, um presente de Natal antecipado.
Me disseram que o pessoal aí do céu ouve sempre os pedidos dos inocentes.
Não! Não é um ursinho de brinquedo. Nem um avião.
Por que é que Papai Noel vive pensando que gente pequena só pensa em urso e avião? É outra coisa.
Sabe o que é, Papai Noel?
É que sempre quando o Corinthians perde, o papai enche a cara.
Chega em casa zangado, xinga vovó, tranca Isabel no quarto e bate em mim.
Até um tempo atrás dava pra agüentar. O Corinthians vencia mais do que perdia.
Mas esse ano foi um ano muito triste aqui em casa. Mamãe foi morar com o menino da manjedoura. Acho que foi desgosto, embora o doutor tenha falado em enfarte.
Mamãe defendia a gente, Papai Noel. E agora a gente não tem ninguém que olhe por nós.
Vovó já está de partida também, Papai Noel. Mais dia, menos dia.
Então meu pedido, se é que o senhor existe, é que eu queria que o Corinthians ganhasse do Grêmio no domingo.
Se possível, que o Corinthians ganhasse sempre, Papai Noel.
Não é por mim. Eu já me acostumei a apanhar.
Mas Isabel tem medo de escuro.
E mamãe, quando disse adeus, pediu pra eu tomar conta dela.
Obrigado pela atenção, Papai Noel,
Sei que o senhor vai fazer o possível.
João Pedro
PS: Se não der, fique tranqüilo. Eu já tenho sete anos. Entendo que tem criança dos outros times pedindo a mesma coisa.

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